Jornada nas Estrelas: Star Trek completa 45 anos

Conheça as séries e os filmes que fizeram a história da franquia


Era para ser apenas mais uma série. Acabou virando história.


Para começar, os 45 anos de Jornada nas Estrelas (08/09/66 - data da exibição do primeiro episódio) são comemorados na data errada. A verdadeira data de nascimento da série deveria ser dia 27 de novembro, e o ano 1964. Ou seja, a série deveria comemorar em 2006 a vetusta idade de 47 anos. Novembro foi o dia em que as câmeras começaram a rolar no que seria um dos programas mais conhecidos do planeta. Seus personagens influenciaram vidas, frases de seu roteiro entraram para a linguagem coloquial, sua nave virou selo em 1999 (embora os correios tivessem dito em 1986 que não faziam ações comerciais nem aniversários de 25 anos) e batizou o primeiro ônibus espacial. O comunicador do capitão inspirou os celulares e uma das marcas destes aparelhos é muito parecida com o símbolo que decorava os uniformes dos personagens da série. E tudo não passou de luzes coloridas, algumas idéias nascidas da absoluta falta de orçamento para efeitos, um estúdio cheio de pombos e paredes tão finas que a descarga dos banheiros interrompia as filmagens.Era para ser apenas mais uma série. Acabou virando história.

Para começar, os 45 anos de Jornada nas Estrelas (08/09/66 - data da exibição do primeiro episódio) são comemorados na data errada. A verdadeira data de nascimento da série deveria ser dia 27 de novembro, e o ano 1964. Ou seja, a série deveria comemorar em 2006 a vetusta idade de 47 anos. Novembro foi o dia em que as câmeras começaram a rolar no que seria um dos programas mais conhecidos do planeta. Seus personagens influenciaram vidas, frases de seu roteiro entraram para a linguagem coloquial, sua nave virou selo em 1999 (embora os correios tivessem dito em 1986 que não faziam ações comerciais nem aniversários de 25 anos) e batizou o primeiro ônibus espacial. O comunicador do capitão inspirou os celulares e uma das marcas destes aparelhos é muito parecida com o símbolo que decorava os uniformes dos personagens da série. E tudo não passou de luzes coloridas, algumas idéias nascidas da absoluta falta de orçamento para efeitos, um estúdio cheio de pombos e paredes tão finas que a descarga dos banheiros interrompia as filmagens.

Quando tantos contam um conto

Milhões de linhas já foram escritas na busca de um motivo para Jornada nas Estrelas ser o que é enquanto tantos outros programas faleceram silenciosamente nas areias da reprise. Na opinião de Leonard Nimoy, o Sr. Spock, a série aprisionou um relâmpago numa garrafa. Por sorte, a fórmula ideal para uma história, seus personagens e seus intérpretes encontrarem o público na hora certa e criarem tal efeito ainda não foi descoberta. Mas, isso não impede que todos os envolvidos continuem tentando. Em 1968, com apenas metade da terceira, e última, temporada aprovada, o próprio criador, Gene Roddenberry, escreveu com Stephen E. Whitfield um livro sobre a criação da série, The Making of the TV Series.

O livro confirmou o encontro com os pombos e a descarga do banheiro que aconteceu nas filmagens do primeiro piloto da série. Nesses tempos heróicos, a Enterprise tinha uma mulher como Primeiro Oficial e um navegador chamado José, filho de um astrônomo de Boston e uma mãe brasileira. A nova chance com o segundo piloto cortou não só o papel de Número Um de Majel Barrett, mas, também nossa ligação direta com a série. O Brasil só voltou a dar um breve passeio onde nenhum homem jamais esteve, como se dizia na época pré-politicamente correta, quando a USS São Paulo (registro NCC-75633) surgiu em Deep Space Nine. E o livro de Roddenberry e Whitfield foi um dos primeiros a contar que uma das exigências para as filmagens era colocar um guarda na porta dos banheiros para impedir que eles fossem usados durante as filmagens, bem como detalhar a luta para manter a série no ar.

Nas décadas seguintes, uma enxurrada de teses acadêmicas analisou o fenômeno da série que nasceu duas vezes e fez sucesso depois de ter sido um fracasso. Mas, foram principalmente os relatos dos atores, do próprio Gene Roddenberry e dos produtores que adicionaram uma quantia insuspeita de pimenta na garrafa que guardou o relâmpago.

Se de um lado Roddenberry aparece como o grande criador da série e de tudo o que dela faz parte, e William Shatner como sua estrela, de outro Herb Sollow, executivo que gerenciava a produção desde antes do dia dos pombos, aponta para a contribuição capital dos produtores Gene Coon, Bob Justman e Matt Jefferies, e os demais atores do elenco acusam Shatner de monopolizar a câmera e roubar cenas, a ponto de alguns se recusarem a falar com o Capitão para o resto da vida. Majel Barrett (esposa de Gene Roddenberry) chegou a dizer que Memórias de Jornada nas Estrelas, a autobiografia de William Shatner, deveria ser vendida na seção de ficção das livrarias. Além dele, quase todos os atores contaram sua visão da vida nos estúdios da Desilu. A lista, infelizmente, exclui DeForest Kelley, que além da série acumulava uma enorme experiência anterior ao programa. Num mundo onde ser celebridade tornou-se mais importante do que a capacidade de atuação, profissionais que viveram o rádio e a TV ao vivo como Kelley são vozes que não deviam ser caladas por algo trivial como a morte.

Não foi bem assim

A primeira reencarnação de Jornada foi a de si mesma, voltando como sucesso cult em reprise quando o original rastejou nos números. Entre a estréia de "O Sal da Terra" ("The Man Trap") até a exibição do último episódio, "O Intruso" ("Turnabout Intruder"), a audiência de Jornada nas Estrelas caiu mais de 50%. Produzir ficção científica sempre foi caro e o corte nas verbas sempre transforma boas séries em coisas difíceis de assistir. Herb Sollow conta que na época do cancelamento da série qualquer executivo da Paramount ou de outro estúdio que dissesse que Jornada nas Estrelas daria lucro algum dia seria aprisionado no hospício mais próximo.

A história conhecida afirma, então, que o ressurgimento da série iniciou em 1972, quando o programa foi vendido a outras emissoras fora das redes (syndication). A verdade é que a Kaiser Broadcasting, proprietária de cinco estações em UHF, comprou os direitos de exibição de Jornada nas Estrelas em 1967. Ou seja, antes mesmo do cancelamento, os 79 episódios do que seria mais tarde conhecido como a Série Clássica, já tinham destino para uma vida após a morte. Foram os programadores da Kaiser que decidiram que uma vez que a audiência de Jornada era composta por garotos, o melhor seria exibir a série no mesmo horário em que todas as demais emissoras exibiam o noticiário pelo qual o público jovem não tinha interesse. As emissoras da Kaiser também tiveram o bom senso de exibir os episódios na ordem, coisa que muito programador do século 21 ainda não aprendeu. Além disso, depois de exibir a série em dezesseis semanas, as emissoras reprisavam todo o programa de novo. O processo fez aumentar a audiência das emissoras no horário das dezoito horas. Logo outras emissoras independentes souberam do sucesso e a idéia de reprisar Jornada nas Estrelas no final da tarde se espalhou pelo mundo.

A caminho da telona, muito antes de Star Wars

O sucesso de Star Wars nos cinemas transformou o projeto de uma nova série de Jornada nas Estrelas no projeto de um filme para o cinema. A idéia de colocar a Enterprise na telona, entretanto, não era nova.

Em 1973 Gene Roddenberry propôs à Paramount fazer um filme de Jornada nas Estrelas. Seu projeto era trazer de volta o Capitão April, nome original do capitão no primeiro piloto. O problema é que a Paramount não queria Gene como produtor, só como roteirista. Sua fama não era das melhores nos bastidores, e os estúdios não gostam de colocar grandes orçamentos nas mãos de gente em quem não confiam. Legalmente, o estúdio podia fazer o filme sem a participação de Roddenberry. Mas comprariam com isso uma briga com os fãs, que viam o criador de Jornada nas Estrelas como um grande homem, um visionário ou, em casos mais extremos de fanatismo, como um deus. O impasse acabou quando Roddenberry e a Paramount discordaram quanto à maior força do universo, o dinheiro. Gene queria mais, a Paramount queria menos.

Quatro anos depois, Roddenberry e a Paramount tentaram um novo casamento em Star Trek: Phase II. Atores chegaram a ser escalados, incluindo David Gautreaux como o vulcano substituto Xon, já que Leonard Nimoy estava em sua fase "Eu Não Sou Spock" e ocupado em uma montagem de Equus. O pedido padrão de um piloto de duas horas e mais treze episódios foi aprovado. Os roteiros foram escritos, mas, o seriado nunca foi produzido. O roteiro do piloto, "In Thy Image", acabou sendo transformado no roteiro de Jornada nas Estrelas: O Filme, bem como alguns personagens. Com uma data fixada para a estréia, o primeiro longa metragem da série saiu aos trancos e barrancos e só em 2001 o diretor Robert Wise teve a chance de finalizar o trabalho como queria.

O resultado na bilheteria, que é o que interessa para o estúdio, foi, no entanto, satisfatório. O suficiente para que outros filmes se seguissem e mais quatro séries surgissem na TV. Nas últimas quatro décadas 2006 é, na verdade, um dos poucos anos sem episódios inéditos de Jornada nas Estrelas sendo produzidos por trás dos portões decorados da Paramount.

Navio de papel

Sem os constrangimentos do caixa do estúdio e demandas de elenco, as séries de TV crescem em outra mídia, os livros. Séries tie in dão aos escritores a liberdade de brincar na caixa de areia do criador da série, seja ela cinematográfica ou televisiva. Star Wars, Buffy, Angel, Arquivo X e outras ganham espaço nas estantes, algumas para viver somente enquanto o seriado está sendo produzido e mantendo o interesse do público. Outras, como Galactica, sobrevivem nos livros até que um estúdio tenha coragem suficiente para investir numa versão em celulóide. Outra possibilidade ainda foi recentemente usada por Bones, que nasceu em livros, foi para a TV e voltou aos livros com as modificações feitas para adaptar a série para a tela, gerando a situação exótica de duas versões da mesma personagem em volumes diferentes.

Jornada nas Estrelas soube aproveitar bem as possibilidades da história escrita formando o Universo Expandido, no qual as tripulações da Série Clássica, Nova Geração, DS9, Voyager e Enterprise continuam a viajar agora até onde ninguém jamais esteve, embora com tantas séries o espaço pareça um pouco lotado de vez em quando.

Jornada estreou em livro em 1968 com Mission to Horatius, de Mack Reynolds. Em 40 anos a coleção inclui novelizações de episódios e filmes, minisséries, quadrinhos, histórias independentes e, a partir de 1996, os livros escritos por William Shatner em parceria com Judith e Garfield Reeves-Stevens, ou somente pelo casal e ostentando o nome de Shatner apenas como decoração, garantem alguns. Batizadas de Shatnerverse as histórias apóiam-se na sobrevivência do Capitão Kirk após os eventos de Generations, o sétimo longa metragem para cinema. O homem, certamente, não está disposto a abandonar o personagem que lhe deu fama.

Os livros também servem à experiência de uma tripulação que nunca viu as telas. Em 1997 a Paramount permitiu o nascimento da primeira série da franquia criada especificamente para os livros. Escrita principalmente por Peter David, Star Trek: The New Frontier é uma aula na união de elementos estabelecidos pelo universo que lhe deu origem a personagens e situações criadas pelo autor. O processo é execrado pelos fãs que radicalmente defendem a presença de Roddenberry no nascimento de qualquer série da franquia, mas, é bem sucedido em The New Frontier. A nave Excalibur, o lar da série, conecta o enredo não só à aura de justiça e heroísmo dos contos arturianos, como a uma nave destruída na Série Clássica em "O Computador Definitivo" ("The Ultimate Compute"r), e a outra, comandada por Riker na Nova Geração em "Redenção" ("Redemption"). A tripulação une Elizabeth Shelby, personagem de Elizabeth Dennehy em "O Melhor de Dois Mundos" ("The Best of Both Worlds") e outros personagem pinçados de episódios diversos da Nova Geração e até da Série Animada, a um capitão criado por David, Mackenzie Calhoun.

A série ganhou a liberdade de quebrar alguns dogmas da franquia. Para uma obra que se orgulha de seu caráter universalista, embora a produção tenha esquecido de incluir Yuri Gagarin na abertura de Voyager, Calhoun é o primeiro alienígena a capitanear uma série. Um alienígena, é claro, modelo Jornada nas Estrelas, devidamente humanóide e capaz de conquistar as leitoras, mas, ainda assim, um aviso de que a nave aqui segue um curso diferente.

O maior trunfo da New Frontier, no entanto, é permitir aos personagens crescer, modificar-se e até deixar a história, dando fim à síndrome de reset que faz com que as histórias de Jornada nas Estrelas terminem obrigatoriamente com a volta ao ponto de partida. Num dos volumes mais recentes o autor deixa claro aos leitores que três anos se passaram entre um livro e outro e que assim como as pessoas, os personagens também mudaram. Get a life e viva com isso.

Mais uma vez, com sentimento

Nas terras da TV, o fim de Enterprise, a quinta série, pareceu por algum tempo o fim da franquia. Novos tempos, competição com outras séries de ficção científica e a praga do reality show, público acostumado demais a efeitos especiais, roteiros fracos, produtores mercenários e tantos outros foram acusados pela falta de sucesso estrondoso que manteria a franquia no ar no século 21. Como diria um personagem de outra série, no entanto, não tema, com Jornada não há problema. J. J. Abrams, criador de Alias e Lost, trouxe Kirk & Cia de volta à tela grande na pele de novos atores em Star Trek (2009), reacendendo o interesse pela franquia e possibilitando uma continuidade nas telonas, nos games e possivelmente de volta à televisão.

Deveria ser mais um filme de uma série de TV adaptada para o cinema, mas, não foi. Nas palavras do produtor Herb Sollow, é importante entender que Jornada nas Estrelas não foi criada ou desenvolvida como um estudo crítico da verdade, dos princípios fundamentais da vida ou de conceitos doutrinários. Foi criada como uma série de TV para dar lucro. As camadas posteriores de significado dadas por todos os envolvidos na criação e manutenção do universo em que vivem seus personagens é que fizeram a diferença, o tal relâmpago engarrafado cuja receita ninguém teve a gentileza de deixar.

Fonte: Omelete

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